Do fim ao fim

Acorda. Funga. Sente o cheiro da terra. Sente o peso da terra. Desperta o corpo. Se estica. Força. Empurra.
Sai debaixo

da terra.
Se espreguiça e reconstitui seu esqueleto. Encontra as articulações. Observa. Se atenta. Sente o cheiro de podre e de lixo.


Vê que querem limpar, tirar. Então briga, luta, guerreia. Demonstra sua força. Ataca, grita, baba, alucina, ameaça, se enfurece. E vence a batalha, mas ainda há guerra.

Junta lixo, terra, pedras e criaturas. Espalha tudo para todo lado. Joga, suja e protege seu território. E aduba seu território.
Seu corpo racha e abre espaço para a água passar. Então, pinga. E pinga.


Torna-se água e escorre e leva o lixo e toda podridão ralo abaixo. Agita os canos fétidos e faz o charco borbulhar.
E desse líquido primordial, se faz sereia. Quer sugar, quer tudo para si. Então,. seduz. E puxa, E enfeitiça. E se exibe. É buraco negro.

Se abre e suga, chupa, encanta, canta, grita, assusta, encara. E chama. E explode, ataca e rouba. Assalta terras onde não há inocentes e pega suas relíquias, seus tesouros.
Mostra os frutas dos seus assaltos e se deleita com todos os brilhos recolhidos.
Com o prazer da conquista e o acúmulo de tudo que chupou, é hora de produzir algo com o que há de bom e de ruim. É hora de se esfregar, de sentir o cheiro dos orifícios, membros, secreções.


É se fundir em máquina. Aproveitar, gozar, deixar doer, machucar. Gostar e sentir nojo. Grudar e melecar. Salivar, lubrificar, sentir, curtir, gemer. Apertar, apalpar, encaixar, rasgar. Produzir.
Engravida. E dá às trevas. Sangra, se desespera.
